João Caraça

Doutorado em Física Nuclear (Oxford) e Agregado em Física (Lisboa) João Caraça foi Director da Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian até 2016. Fora anteriormente Director do Serviço de Ciência desde 1988 até 2011. Foi membro do Conselho Directivo do EIT-Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia de 2008 a 2012. Integra o Comité de Direcção do Forum Europeu de Filantropia e Ciência.

Professor catedrático convidado do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa coordenou, entre outras funções, o Mestrado em Economia e Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação (1990-2003).

Foi Consultor para a Ciência do Presidente da República de 1996 a 2006 e é autor de mais de uma centena e meia de trabalhos científicos. Foi Presidente do Conselho Consultivo da COTEC – Associação Empresarial para a Inovação. Os seus interesses centram-se nas áreas da política científica e tecnológica, da prospectiva e da história do pensamento e da cultura.

Publicou Do Saber ao Fazer: Porquê Organizar a Ciência(1993), Ciência(1997), Entre a Ciência e a Consciência(2002) e À Procura do Portugal Moderno(2003). Participou na redacção de Limites à Competição(1994) e de A Nova Primavera do Político(2007) e na organização de O Futuro Tecnológico(1999), de Ideias Perigosas param Portugal (2010) e de Rescaldo e Mudança: As Culturas da Crise Económica (2012).

Noutras línguas publicou Science et Communication(1999) http://bit.ly/1NOE0gF e mais recentemente Aftermath: The Cultures of the Economic Crisis (2012) http://bit.ly/23H4mNf.

 

UTOPIAS, UCRONIAS, DISTOPIAS

RESUMO

A utopia é um género literário que se adaptou bem à discussão sobre a melhor forma de governar (e por quem). Acompanha-nos, pelo menos, desde os gregos clássicos. A última grande utopia, a Nova Atlântida (1627) de Francis Bacon, publicada um pouco mais de um século após a Utopia de Thomas More, descreve o mundo perfeito onde os homens dominam a natureza por meio da ciência.

O conhecimento geográfico da Terra proporcionado pelos Descobrimentos e pela navegação oceânica esvaziou progressiva e inexoravelmente o sentido da escrita utópica. Em nenhum dos sítios do mundo, nem nos mais remotos, existiam sociedades que pudessem servir de modelo às europeias. Apareceram então as «ucronias», ou comunidades ficcionais pertencendo a outras épocas num futuro mais ou menos distante, servindo para alimentar a convicção de que seria possível antecipar o que se passaria em eras futuras.

A segunda Grande Guerra correspondeu a uma bifurcação no desenvolvimento do pensamento sobre o futuro. A sua imagem escureceu. Os desmandos da industrialização e os horrores da guerra trouxeram-nos um outro tipo de narrativas – as «distopias» ou lugares ruins, com todo o seu cortejo de iniquidades e arbitrariedades. Não admira, as nações europeias pareciam ter perdido o norte.

Hoje, o confronto entre globalização e construção dos estados provoca de novo a necessidade absoluta de saber interpretar a realidade, para definirmos qual a nova ordem no mundo que nos vai trazer aquilo a que aspiramos. Será que estamos no fim, numa transformação, ou num acidente de percurso do regime da modernidade? Para o perceber, precisamos de criar uma nova utopia. O futuro procura-se, nunca se encontra.

 

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