Apresentação

Se o passado nos chega deformado,
o presente desagua em nossas vidas de forma incompleta.
Alguns vivem isso como um drama. E partem em corrida nervosa à procura daquilo que chamam a nossa identidade. Grande parte das vezes essa identidade é uma casa mobilada por nós mas a mobília e a própria casa foram construídas por outros.

Mia Couto, Pensatempos

 

A citação de Mia Couto expressa de modo lapidar a problemática em torno da qual esta 3ª edição do Bibliotecando em Tomar foi pensada. Pretendemos ao longo de três dias discutir a questão da construção identitária portuguesa realçando o fenómeno da deslocalização como elemento estruturante da nossa identidade cultural. Elegemos como tema central do nosso encontro Leituras Migrantes: Identidade e Alteridade.

A nossa história funda-se e alicerça-se em incessantes mobilidades, desde as descobertas até aos novos povoadores passando pelas vagas de (e)migração voluntária ou forçada, ou ainda pelo retorno de África de colonos em resultado do processo de independência desses países.

A literatura e as artes em geral desempenham um papel fulcral na construção e apreensão dos princípios conceptuais do nacionalismo.
Ancoradas num lugar a partir do qual se observa e se pensa o mundo (legitimador da produção artística), mas igualmente do(s) lugar(es) onde se esteve e onde se
viveu, as obras refletem o incessante diálogo que subjaz à construção identitária individual, colectiva ou cultural. Ao processo de deslocalização, tal como o definiu Maria Alzira Seixo, está inerente a relação do sujeito com o lugar mas igualmente a relação do eu com o outro, construindo-se a identidade num equilíbrio recriador entre sentimentos de pertença e de não-pertença, numa constante conciliação de duas ou mais culturas.

Com um leque de destacadas personalidades (ensaístas, escritores, políticos, artistas …) pretendemos abordar questões como as leituras migrantes de ontem, a emigração como ato de intervenção e identidade, procurar os portugueses no mundo, abordar a obra de Lobo Antunes, visitar a biblioteca de José Pacheco Pereira, riquíssima pela diversidade do seu acervo documental e uma das maiores bibliotecas privadas do país, perscrutar o que leva uma pessoa a fazer, escrever ou investigar fora ou sobre o seu país, perceber se há portugueses que se sintam estrangeiros dentro de si mesmos e no seu próprio país, ou porque aqui não nasceram mas vivem, ou porque aqui nasceram e vivem mas viveram também noutros locais e são, à uma, nacionais e estrangeiros, estrangeiros de si próprios...

Em 2012, contamos, entre outros, com Agripina Carriço Vieira, Ana Carvalho Dias, Ana Paula Arnault, António Pinto da França, Catarina Vaz-Warrot, Eduardo Lourenço, Felipe Cammaert, Fernanda Barrocas, Hermano Sanches Ruivo, José Augusto França, José Pacheco Pereira, Júlio Magalhães, Luís Cardoso Ribeiro, Marcello Duarte Mathias, Marco Abbondanza, Maria Alzira Seixo, Mário Cláudio, Miguel Real, Norberto Cardoso, Nuno Marçal, Teolinda Gersão e Veronique Tison.

 

Ação acreditada pelo CCPFC/ACC-69852/12 (Consulte a página Materiais para download)

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